domingo, 21 de outubro de 2012

A astrologia é testável?



A astrologia é testável?
Um segundo argumento a favor da astrologia é o de que ela é testável e que há indícios de que os dados apóiem a hipótese de uma conexão causal entre os corpos celestes e os eventos humanos. Por exemplo, de acordo com o assim chamado Efeito Marte, grandes atletas são natos, não feitos. Essa afirmação é baseada numa análise estatística das datas de nascimento de grandes atletas e a posição de Marte quando nascem. Diz-se que a correlação é maior do que o que se esperaria pelo acaso. Outros discordam e alegam que os indícios não mostram uma correlação que não seria esperada pelo acaso. No entanto, mesmo se houvesse uma correlação significativa entre a posição de Marte na data do nascimento e o fato da pessoa se tornar um atleta excepcional, isso não implicaria ou mesmo indicaria existir uma conexão causal entre a posição de um planeta e o tipo de atividade em que a pessoa se daria bem na Terra. A correlação entre x e y não é uma condição suficiente para a crença racional de que x causa y. Mesmo uma correlação estatisticamente significativa entre x e y não é uma condição suficiente para uma crença racional numa correlação causal, muito menos para a crença de que x causa y. Correlação não prova causalidade.
Embora não prove, a correlação é extremamente atraente para os defensores da astrologia. Por exemplo: "Entre 3.458 soldados, Júpiter é encontrado 703 vezes, nascendo ou culminando quando eles nascem. As leis das probabilidades prevêem que deveriam ser 572. As chances disso acontecer: uma em um milhão" (Gauquelin). Estou disposto a assumir que todos os dados estatísticos que mostram uma correlação significativa entre diversos planetas nascendo, se pondo, culminando, ou o que quer que se possa vê-los fazer, é acurada. No entanto, seria mais surpreendente se entre todos os bilhões e bilhões de movimentos celestes concebíveis não houvesse uma grande parte que pudesse ser significativamente correlacionada com dezenas de eventos em massa ou traços de personalidade individuais.
Por exemplo, os defensores da astrologia gostam de observar que 'a duração do ciclo menstrual da mulher corresponde às fases da lua' e que 'os campos gravitacionais do sol e da lua são fortes o bastante para causar a subida ou a descida das marés na Terra.' Se a lua pode afetar as marés, então pode certamente afetar uma pessoa. Mas o que existe de análogo às marés numa pessoa? Somos lembrados de que os seres humanos começam a vida num mar amniótico e de que o corpo humano é 70% água! Se as ostras abrem e fecham as conchas de acordo com as marés, as quais fluem de acordo com as forças eletromagnéticas e gravitacionais do sol e da lua, e se os seres humanos estão cheios de água, não é então óbvio que devam ser influenciados pela lua também? Pode ser óbvio, mas os indícios vindos dos estudos da lua não confirmam isso.
Os astrólogos dão ênfase à importância das posições do sol, da lua, dos planetas, etc. no instante do nascimento. Mas por que as condições iniciais seriam mais importantes para a personalidade e as características de uma pessoa que todas as condições subseqüentes? Por que seria escolhido como o momento crucial o nascimento, e não a concepção? Por que outras condições iniciais como a saúde da mãe, as condições do local do parto, fórceps, luzes fortes, sala escura, banco traseiro de um automóvel, etc., não seriam mais importantes do que se Marte está ascendendo, descendendo, culminando ou fulminando? Por que o planeta Terra, muito mais próximo de nós no nascimento, não seria considerado uma influência importante no que somos e no que nos tornamos?
Além do Sol e da Lua, e de algum cometa ou asteróide passando ocasionalmente, a maioria dos objetos planetários está demasiado distante de nós. Qualquer influência que pudessem ter sobre o nosso planeta seria encoberta pelas do Sol e da Lua. É muito mais provável que a Terra, e as pessoas e coisas com as quais se tem contato direto, sejam fatores de influência mais importantes nas nossas vidas que distantes corpos celestes. Além disso, se for verdade que podemos determinar efeitos específicos a partir de condições específicas do local do nascimento, então podemos controlar essas condições de forma a trazer resultados benéficos. Por outro lado, mesmo se for verdade que a posição das estrelas e planetas seja mais importante para a vida da pessoa do que um nascimento difícil e passado sob condições horrendas, não há nada que possamos fazer em relação à posição das estrelas, e há um limite no controle que podemos ter sobre o momento do nascimento de uma pessoa. (Ainda bem que não vou ser um astrólogo na era dos bebês de proveta. Como eu iria saber quando o meu cliente 'nasceu'? O processo do nascimento não é instantâneo. Não existe um momento único no qual a pessoa nasce. O fato de que algum funcionário escreva em algum lugar um horário do nascimento é irrelevante. Será que escolhem o momento em que a bolsa se rompe? O momento em que ocorre a primeira dilatação? Quando o primeiro fio de cabelo ou unha do pé aparece? Quando a última unha do pé ou fio de cabelo ultrapassa o último milímetro da vagina ou da superfície da barriga? Quando se corta o cordão umbilical? Quando se faz a primeira respiração? Ou o momento em que o médico ou a enfermeira olham para um relógio de parede ou de pulso [sem dúvida magicamente livre da possibilidade de imprecisão] para anotar o momento do nascimento?)
Ninguém diria que, para que se compreendesse o efeito da lua sobre as marés ou sobre as batatas, fosse preciso entender as condições inicial da singularidade que precedeu o Big Bang, ou a posição das estrelas no momento em que as batatas foram colhidas. Para que se saiba a respeito da maré baixa de amanhã, não é preciso saber onde estava a lua quando o primeiro oceano ou rio se formou, ou se os oceanos vieram primeiro e a lua depois, ou vice-versa. Condições iniciais são menos importantes que as presentes para que se compreendam efeitos atuais sobre rios e plantas. Se isso vale para marés e plantas, por que não valeria para as pessoas?
correlação não é causalidade
Esse fascínio pelas correlações também é encontrado no raciocínio dos que tentam transformar todo sítio megalítico antigo em algum tipo de observatório astronômico. Os defensores da astrologia deveriam observar o que Aubrey Burl escreveu a respeito desse tipo de raciocínio.
… são grandes as probabilidades de que ocorra fortuitamente uma boa linha de visão celeste em quase qualquer círculo. Examine-se um sítio como Grey Croft, em Cumberland,... 27,1 x 24,4 m de diâmetro, com doze pedras e uma extra, parecem haver tantas linhas e tantos alvos possíveis que seria improvável não descobrir nada (Burl, 50).
Além disso, embora seja verdade que as chances de se passar 20 vezes seguidas num jogo de dados sejam inconcebivelmente baixas, isso já aconteceu. Havendo jogos suficientes, o inconcebível se torna freqüente. Em resumo, o que parece desafiar as "leis" da estatística pode não estar realmente o fazendo, quando se examina com mais cuidado.
Para concluir, há aqueles que defendem a astrologia argumentando com o quanto os horóscopos profissionais acertam. Um colega, professor de história da Universidade da Califórnia em Davis, com título de Ph.D, pratica a astrologia. Naturalmente, possui tecnologia e tem um programa de computador para ajudá-lo a fazer as leituras. Conhece todos os argumentos contra a astrologia e até admite que logicamente ela não deveria funcionar. Mas funciona, acredita ele. Esse conceito de 'funciona' é curioso. O que será que significa?
Basicamente, dizer que a astrologia funciona quer dizer que há muitos consumidores satisfeitos. Não significa que seja precisa na predição do comportamento humano ou de eventos num grau significativamente maior que o da pura sorte. O principal apoio a esse argumento aparece na forma de relatos e testemunhos. Há muitos clientes satisfeitos que acreditam que os horóscopos os descrevem com precisão, e que os astrólogos lhes deram bons conselhos. Esse tipo de indício não comprova a astrologia tão bem quanto demonstra os efeitos da leitura a frio, o efeito Forer, e a predisposição para a confirmação. Bons astrólogos dão bons conselhos, mas isso não valida a astrologia. Vários estudos mostraram que as pessoas usam o pensamento seletivo para fazer com que qualquer carta astrológica que apresentarem a elas se encaixe em suas idéias preconcebidas sobre si mesmas. Muitas das afirmações que são feitas a respeito de signos e personalidades são vagas, e se encaixariam em muitas pessoas de diferentes signos. Até mesmo astrólogos profissionais, a maioria dos quais despreza a Astrologia de Signos Solares, não é capaz de escolher uma leitura de horóscopo correta num índice de acertos maior que o esperado pelo acaso. Mesmo assim, a astrologia continua mantendo a popularidade, apesar de não haver um mínimo de comprovação científica a seu favor. Mesmo a primeira dama dos Estados Unidos, Nancy Reagan, e seu marido Ronald, quando era o líder do mundo livre, consultaram um astrólogo, o que me leva a concluir que os astrólogos têm mais influência que as estrelas.
Será possível que eu seja quem sou devido à posição dos planetas, estrelas, luas, cometas, asteróides, quasares, buracos negros, etc., no momento do meu nascimento? Sim, é possível. Será que eu tenho alguma razão para achar que isso é mais provável que o oposto, ou seja, de que essas questões sejam insignificantes e irrelevantes para o meu 'destino'? Não. Não consigo encontrar sequer uma única boa razão para acreditar em nada disso. Mas eu sou taurino, e todos sabemos o quão teimoso eu devo ser.



Nenhum comentário:

Postar um comentário